Com olhos fechados vou andando na calçada Passa cada passo, vou amassando mais lata Pisando em cacos de garrafas quebradas Nessa madrugada eu já não temo mais nadaE quando eu for olhar e perceber onde nós tá Não vou ter certeza se eu vou querer voltar Pra como era antes, tá chovendo vamo entrar Eu fico nas estantes esperando alguém levarEsses dias ando muito avoado Andando nas nuvens mas não saio do asfalto Esses dias ando muito avoado Pode me deixar mais altoMas quando eu for cair É queda livre, é queda livre Mas quando eu for cair É queda livre, é queda livreCorrendo atrás do meu sonho, eu nunca canso Afasto esses ganso, se manca Banca de moleque rimando nesse beat jegue Redação sem tema, novo lema da favela Clima tensoUm milhão da tele sena Vem dinheiro, vem prazer, tudo armado pra você Cifrão também mata, ilusão na mão dos mente fraca Elegância no pé, correndo desses cuzão De ferro na mãoProcurando por todo lado Minha letra ainda tá naquela mesa no fundão da casa Nada mais faço, pouco penso Queimando um fino com ela, clima tensoÀs vezes penso se poderia mudar No passado voltar Muitas histórias ainda tenho pra contarEra um corre, corte, fugindo da luz Eu sinto, sinto muito Escrevi uma carta pra mim mesmo Através do inviável, infindável passadoPois não havia início, era tudo recomeço Fosse um beijo na boca, ou o barulho do tiro Ha Sem essa de sucrilhosFerro na mão de mais uma criança Mais uma mãe sem esperança Eu queria ter te escrito mais cartas Banalizado o fato de você ser do alto e eu de baixoUm raso papo na calçada e tudo era tão novo Entre o sorriso e o medo Vento percorria minha medula Alma clareiaJoelho no chão antes de deitar ou antes de partir Vi o inferno duas vezes no mesmo dia Quando você chorou no meu ombro E quando me deitaram no asfaltoFoi assim que comecei a lutar pra me manter vivo Rimei pelo morro Bebi o cantinho do vale mais escuro da adolescência Essência do que é vida, esquina, amar, ser, representarO arco-íris veio pra mim quando eu menos esperei num dilúvio patriarcal Quando me pediram o RG, me apontaram o cano Eu só pensava no irmão que foi, escorreu no concreto A mãe que ajoelhou, suplicou Sirene, chuva, barreiro, línguaJesus olhou pra mim enquanto eu mentia pra mim mesmo sobre quem eu era E eu menti pra mim mesmo esse tempo todo Esse tempo todoSalve pras irmã, pros irmão Os que ficou, os que foi Rap é liberdade, onírico, empírico Compromisso