Começo devagar com minha luta
Sempre às quatro e pouca da manhã
Derramando o suor numa disputa
Entre homem e terra
Pois hà tantas rotinas sofrida nesta vida
E salários suados para ganhar
Trabalhando por conta pra limpar
Capim de cana nova com destreza
Pego no cabo com muita firmeza
De luva na mão pra encaliçá
Sou Luiz, sou José e sou Francisco
Sebastião, Severino, João
Seu Mané, Pedro Inácio, Calisto
Danié, Mariana e Damião
Se pego na limpa só saio no cisco
Volto a pé, bicicleta ou caminhão
Levando meu bode pro almoço
E a quartinha com água pra tomar
Comecei nessa vida ainda moço
Antes de nove anos completar
Só que desde alguns anos pra cá
A cana não dá mais o que comer
Mas no mato é melhor de se viver
Que na rua em desenvolvimento
Saindo do ingem
Pra mim é sofrimento
Lamento, mas não tem pra onde correr
De bota sete léguas e sem cansaço
Umtrabalhador sem indignação
Minha quadra pesada e eu mesmo traço
Persistindo na peregrinação
Carregando na minha profissão
A dor de não escrever e não ler
Sempre faço por onde prevalecer
A boa consciência e decência
Luto pela minha sobrevivência
Entendo muita gente não entender