Moyseis Marques

Samba

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foto de Moyseis Marques
Se, para você, o nome de Moyseis Marques é uma relativa novidade ou acabou de cair do céu, é porque você não está freqüentando os lugares certos da noite carioca – a Lapa, a Gamboa, a Muda e outras quebradas em cujas casas, rodas e gafieiras ele se apresenta toda semana. Nesse caso, você nem desconfia do que está perdendo. Ou, então, não tem conversado com os cardeais, os ministros-conselheiros do samba, os quais, se você lhes pedir referências sobre Moyseis Marques, responderão com tanto entusiasmo que você se perguntará por quais estrelas andou pisando distraído nos últimos anos. Duvida? Pergunte a Luiz Carlos da Vila, Walter Alfaiate, Nei Lopes, Wilson Moreira – uma turma dura na queda quando se trata de elogiar alguém. Pergunte a Aldir Blanc, que foi às lágrimas recentemente no Estephanio’s, na Tijuca, ao ouvir Moyseis cantar “Imperial”, dele, Aldir, e de Wilson das Neves. Pergunte a Elton Medeiros, que dividiu com Moyseis o microfone em “14 anos”, de Paulinho da Viola, neste seu primeiro disco solo, Moyseis Marques, pela Deckdisc. Ou pergunte ao fabuloso Paulão Sete Cordas, que entrou no disco para fazer dois arranjos e tocar violão, mas empolgou-se com Moyseis e participou do coro em oito faixas e deu palpites no disco inteiro. Talvez Moyseis seja um daqueles casos de quem se diz que levou a vida inteira para fazer sucesso da noite para o dia. Por sorte, essa “vida inteira” se resume a apenas 28 anos, e esse número pode ser ainda mais abreviado se considerarmos que, até os dezessete, Moyséis nunca tinha ouvido samba direito. Como milhões de outros jovens brasileiros, ele era uma vítima da visão estreita e injusta do establishment musical, que, nos anos 80 e 90, condenou o samba a um gueto do qual só podia sair no Carnaval e olhe lá. Com isso, Moyséis, criado na Vila da Penha, cresceu sem conhecer Tom Jobim, Paulinho da Viola ou Chico Buarque, e sem nunca ter ouvido falar em Ary Barroso, Wilson Batista ou Ataulpho Alves. Mas, a provar que o samba está no nosso DNA e que, mesmo clandestinamente, corre na mainstream sanguínea do brasileiro, bastou a Moyseis romper a casca do ovo – as festas em igrejas. Dali partiu para os primeiros pagodes, as rodas de samba, as mesas de sinuca e, finalmente, a imensa noite da Lapa, com alguns forrós pelo caminho. Nesse percurso, Moyseis fez barba, cabelo e bigode: aprendeu a cantar, a tocar violão e a compor – e fazer tudo isso bem. Os dentes-de-leite, ele os perdeu em grupos como o Forró na Contramão, o Xaxados e Perdidos e o Casuarina, antes de ajudar a fundar o Tempero Carioca, que está com ele numa faixa do disco: a dobradinha de partido alto, “Mocotó do Tião” e “Fidelidade partidária”, de Wilson Moreira e Nei Lopes. Os cardeais do samba abriram seus braços para Moyseis porque o reconhecem como um dos seus. E ele não os desaponta, fazendo desse seu disco de estréia um panorama do samba de todas as épocas. Nele cabem Paulo César Pinheiro (“Nomes da favela”) e Dona Ivone Lara (“Minha verdade”) até Gordurinha (“Meu enxoval” e “O vendedor de caranguejo”) e o maravilhoso – e que só os muito por dentro amam – Geraldo Jacques (“Falsa patroa”), mais conhecido por “Adeus, América” e “Tin-tim por tin-tim”. Mesmo as cinco faixas que Moyseis assina em seu disco como compositor (às vezes em parceria com Daniel Scisinio, João Callado e Rodolfo Dutra) soam bem na chapa ao lado dos sambas dos mestres. Não se sabe ainda se é desta vez que o samba voltou para ficar. O que se sabe é que ele é tão forte que, quando os ritmos espúrios se esgotam, o establishment, mesmo a contragosto, tem de chamá-lo de volta. O samba, então, comparece e desempenha. E, enquanto continuar gerando grandes jovens talentos como Moyseis Marques, dele seremos gostosamente escravos, bons da cabeça e saudáveis do pé. (RUY CASTRO)

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