Num transporte de boiada eu não posso me lembrar
Numa viagem que fiz de Goiás práCuiabá
Numa Sexta - Feira Santa, veja só o que foi se dá
Quando a tarde foi caindo deu um forte temporal.
Relampejava e trovejava, clareando o mundo inteiro
O temporal foi deixando os animais em desespero
Nesta viagem nós levávamos quinhentos bois pantaneiros
E na frente caminhava, um "Boi Fumaça", traiçoeiro.
Mesmo em baixo de chuva nossa viagem continuava,
Por não ter lugar de pouso lá onde nós se encontrava.
Meu filho era o ponteiro que na frente caminhava,
Repicando o seu berrante, a boiada acompanhava.
Bem perto de uma porteira foi assim que aconteceu:
Seu burro não encostava, e pra baixo ele desceu.
O boi fumaça, então veio e meu filho não percebeu,
Na guampa do pantaneiro, no ar ele suspendeu.
Fiquei louco nessa hora, quando meu filho gritou,
Eu quis salvar a sua vida mas não adiantou,
O chifre do boi Fumaça com seu sangue avermelhou,
Minhas lágrimas sentidas com a chuva se misturou.
Perdi meu filho querido, nesta viagem traiçoeira,
Mas guardei no coração suas palavras derradeiras:
- Eu queria ser peão, mas findou minha carreira,
Papaizinho me enterre perto dessa porteira.
Abandonei essa lida meus prazeres pra mim morreram
Mas não posso me esquecer daquele golpe traiçoeiro
Quando escuto um berrante, me arrepia o corpo inteiro
Me lembro do meu filho e o tempo de boiadeiro