É um dia, é um dado, é um dedo
Chapéu di dedo é didal
É um dia, é um dado, é um dedo
Uma história vou contarNa igreja de Irará
Tinha um São Benedito
Que ocupava um grande altar
Mas um dia apareceu
Um Santo Antônio bem novinho
Que tomou o seu lugarSão Benedito para onde foi ninguém sabia
Nem tá na conta, nem altar, nem sacristia
Era no tempo da festa da padroeira
Quando Almiro Oliveira
Ensaiava sua missaA organista, a boa Dona Paixão
Brigou com o coro todo e começou a confusão
Pois se tudo na cidade começou a dar pra trás
E aonde a seca é dura começou chover demaisCaía poste de luz
Cidade tá no escuro
Sapo cantou de dia
Nenhum ovo de galinhaPrefeito caiu da cama
E na lavagem da igreja
O curador de muita fama
Apanhou duma rameiraCaiu ponte no rio seco
Carro não entra, nem sai
Roncou um verso de mar
Na serra do treme e caiAs asas do azé
Acredite quem quiser
Azé, azado, azou
Azar por aqui baixouCorpo fechado se fechou
Chá de chocai de cascavel
Cordas de terço se rezou
Caveira de burro se enterrouMas a salvação foi quando um dia
Por acaso nós entramos na igreja
Com a intenção de por lá bisbilhotarE quando um amigo meu
Destes que com santo não tem laços
Suspendeu por graça o manto
De um velho senhor do espaçoAs asas do azé
Acredite quem quiser
São Benedito tava lá debaixo
De cara feia, todo encapuçadoDiz que foi ele quem botou despacho
Corre a cidade, corre o povo todo
Corre as beatas, pega o Benedito
E bota o santo lá no seu altarÉ um dia, é um dado, é um dedo
Chapéu di dedo é didal
É um dia, é um dado, é um dedo
Quem gostou da história
Que conte outra
Compositor(es): Tom Zé.
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