Dolores Duran

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foto de Dolores Duran
A trajetória de Dolores Duran como compositora deve ser vista em paralelo à sua carreira de cantora. Adiléia Silva da Rocha, nome de batismo de Dolores, nasceu em 1930, no bairro da carioca da Saúde. Filha de um sargento da Marinha, também viveu em Irajá e Pilares, convivendo com as dificuldades da vida suburbana. Não conseguiu concluir o curso primário, mas tornou-se uma das mais intuitivas poetisas da música popular brasileira. Sem estudos de canto, consagrou-se como cantora afinada e segura, intérprete sensível de vários gêneros musicais. Com pouquíssimo domínio de línguas, cantava em vários idiomas com pronúncia impecável. Sem nunca ter aprendido mais do que alguns poucos acordes no violão, suas composições apresentam uma melodia inspirada e envolvente. Começou sua trajetória na música ainda menina, com seis anos, cantando em concursos e festas. Seguindo o caminho comum nos anos 30 e 40, período de ouro do rádio, participou com sucesso de programas de calouros, inclusive o dirigido por Ari Barroso, "Calouros em Desfile", aos domingos na Rádio Tupi. Logo depois concorreu no programa "Escada de Jacó" e passou a integrar sua equipe, apresentando-se em shows de bairros em cinemas, teatros e clubes. Participou ainda de vários outros programas de calouros. Pressionada pelas dificuldades financeiras da família depois da morte do pai, Dolores começou aos 12 anos a trabalhar no rádio-teatro da Tupi, num programa de histórias infantis, o "Teatro da Tia Chiquinha". Atuou, também, em várias peças teatrais, na equipe infantil de Olavo Barros. Depois de sua participação no concurso "À procura de uma cantora de boleros", no programa Renato Murce, foi convidada a fazer um teste na boate Vogue, na época uma das mais sofisticadas do Rio. Aprovada, obteve um contrato de crooner. Assim, começava seu trabalho na noite e dessa forma surgia Dolores Duran. A jovem profissional tinha apenas 16 anos - com a idade falsificada para poder trabalhar -, mas com sensibilidade e afinação cantava vários gêneros em diferentes idiomas (espanhol, francês, inglês, italiano) e interpretava de forma muito particular as composições de Ismael Neto, Antonio Maria e Billy Blanco, já exibindo seu domínio vocal e improvisações jazzísticas, tipo scat singing. Confirma sua maestria vocal a opinião da própria Ella Fitzgerald, uma expert no estilo, que durante sua passagem pelo Rio de Janeiro, nos anos 50, foi à boate Baccarat especialmente para ouvir Dolores, que interpretou My funny Valentine (Hodges e Hart), um clássico da música popular norte-americana. Conta-se que Ella elogiou efusivamente a interpretação. No início dos anos 50, a canção francesa gozava de muito prestígio no Rio, e Charles Aznavour, um dos seus expoentes à época, ao se apresentar na cidade, aplaudiu as interpretações de Dolores no Little Club. Em 1955, a jovem Dolores foi apontada pela crônica especializada como a melhor crooner do Rio de Janeiro, trabalhou nas boates mais conhecidas do Rio de Janeiro - Vogue, Beguine, Little Club, Baccarat, Casablanca, Acapulco, Montecarlo - e também se exibiu em São Paulo, no Esplanada. Por várias vezes se apresentou no Uruguai e na Argentina (1955 e 1956). Além de cantar, fazia exímias imitações de cantores de todo o mundo, reproduzindo com perfeição o timbre de voz de cada artista, inclusive dos homens. Já plenamente reconhecida no circuito das boates, desejava conquistar outro público. A oportunidade apareceu quando César de Alencar a escutou na Vogue e a levou para a Rádio Nacional, onde se apresentava em seu programa sábados à noite, junto com os mais populares cantores do país. Ingressou também na caravana circense de Paulo Gracindo, em 1956, com a qual percorreu os subúrbios cariocas, alternando suas apresentações em boates de luxo, até fora do país, e o picadeiro. Apesar de muito bem tratada pela imprensa, pelos cronistas, não apenas de rádio mas pelos cronistas em geral, na prática a carreira não progredia. Decidiu então dar-lhe um cunho bem popular: trocou a boate pelo circo. Em 1958, com Nora Ney, Jorge Goulart, Conjunto Farroupilha e outros artistas, excursionou pela então União Soviética, mas em Moscou separou-se do grupo (que seguia para China) e foi para Paris, onde permaneceu por cerca de um mês, apresentando-se num pequeno bar freqüentado por brasileiros. Sua estréia em disco foi em 1952, gravando dois sambas para o Carnaval de 1953: Que bom será (Ailce Chaves, Salvador Miceli e Paulo Marquez) e Já não interessa (Domício Costa e Roberto Faissal). Em 1953, gravou Outono (Billy Blanco) e Lama (Paulo Marquez e Ailce Chaves). Os primeiros sucessos vieram dois anos depois, com o lançamento de Canção da volta (Antonio Maria e Ismael Neto) e Bom querer bem (Fernando Lobo). Em 1955 grava Praça Mauá (Billy Blanco) e Carioca (Antonio Maria e Ismael Neto). Em 1956 consegue um dos seus maiores sucessos como cantora: Filha de Chico Brito (Chico Anísio). Atingindo o público pela simplicidade, cantou peças de vários outros compositores com uma voz afinada e uma interpretação intimista, bem ao estilo dos anos 40/50. Gravou de Billy Blanco A banca do distinto, Pano legal, Estatuto de boate, Viva meu samba. Também aparecem em sua discografia Coisas de mulher (Chico Baiano), Conversa de botequim (Noel Rosa e Vadico). Ficou conhecida como intérprete de samba-canção, mas era cantora de múltiplas facetas, graças à versatilidade adquirida como crooner de orquestras, junto às quais cantava de tudo. Em seus discos aparecem desde sambas bem-humorados, baiões, até músicas estrangeiras (sua gravação de My funny Valentine foi incluída no seu último disco, um compacto duplo gravado ao vivo em São Paulo). Apesar das recomendações médicas sobre suas fragilidades cardíacas, não refreou os excessos. Na manhã de 24 de outubro de 1959, Dolores Duran chegou à sua casa nas primeiras horas do dia, depois da uma apresentação no Little Club e uma esticada na noite. Conversou com a empregada, dizendo: "Não me acorde. Estou muito cansada. Vou dormir até morrer", e foi para o quarto. À noite foi encontrada morta, vítima de um colapso cardíaco. A morte prematura, aos 29 anos, rompia uma trajetória vivenciada intensamente, que conseguiu captar tanto o mundo à sua volta como apurar a sensibilidade do seu sentir.

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